Qual o papel das tecnologias digitais na nossa forma de ver, imaginar e interpretar o mundo? Quais as ferramentas, dispositivos, metodologias e saberes nos guiam? “Visualizações de mundo” é o tema que a 5ª edição do Festival Red Bull Basement leva para sua programação, dia 14 de setembro, no Red Bull Station.
Com entrada gratuita, em 2019 o festival nos convoca a refletir sobre a multiplicidade de saberes, corpos, tempos, espaços e modos de vida existentes, para além dos padrões e visualizações computacionais atuais. Ao longo de um dia de atividades, os visitantes são convidados a participar de talks, workshops e exposições que elaboram e constroem diferentes maneiras de ver e processar informações hoje.
O que ainda desejamos ver, quando tudo parece já ter sido visto? Imagens de satélites de alta definição, simulação de ambientes tridimensionais, vídeos e fotografias encontrados na internet com eventos e culturas em locais remotos aos grandes centros urbanos, webcâmeras de transmissão ao vivo de locais quase inacessíveis, ferramentas de visualização de dados, softwares de reconhecimento facial. Que imagens e visões de mundos ainda desejamos produzir com o uso de tecnologias digitais? O Festival Red Bull Basement nos convida a refletir sobre os imaginários e visualizações gerados pelas tecnologias digitais, bem como suas ferramentas, softwares, códigos e aparelhos. Será também a finalização da residência hacker do Red Bull Basement, onde serão apresentados os trabalhos dos residentes que passaram 2 meses desenvolvendo seus projetos de tecnologia para impacto social.
Batemos um papo com o curador do festival, Cláudio Bueno, para entendermos mais sobre o conceito e a programação do evento.
Fale sobre o conceito do Festival. O que seriam as visualizações de mundo que será discutido?
As tecnologias digitais geram o tempo todo saída gráficas e visuais para maneiras de pensar, entender, visualizar e interpretar o mundo. E quando falamos ‘mundos’ no plural, a gente entende que apesar dessas tecnologias terem sido criadas e orientadas a partir de um pensamento eurocêntrico e norte-americano, existem muitos outros ‘mundos’ possíveis e existentes. É tirar a tecnologia desse lugar hegemônico e universal, mostrando que existem vários mundos, e muitas possibilidades deles.
E como a programação se conecta com esse tema?
A partir desse conceito, a programação foi pensada para considerar também os corpos, contextos e modos de vida por trás de quem produz as imagens e visualizações por meio das tecnologias digitais. São saberes situados. Por exemplo, como que no território brasileiro a gente lê o céu? Pois não é como no resto do mundo. Para falar essa particularidade, teremos o astrônomo indígena Germano Afonso que abordará as tecnologias e modos de visualização dos céus, desde a perspectiva afro-ameríndia presente no Brasil. O programa Red Bull Basement trabalha com ideias, ações e projetos #TechForGood, que usam a tecnologia para o impacto social.
Como essa premissa está inserida no Festival?
Pensar uma ‘tecnologia para o bem’ é pensar uma tecnologia que inclua a multiplicidade de pessoas e pensamentos e a diversidade de um contexto como o brasileiro. O conhecimento tecnológico acontece de diferentes maneiras em cada lugar e trazer os residentes do Red Bull Basement para mostrarem seus projetos, exemplifica como usamos a tecnologia de diferentes maneiras para lidar com problemas sociais em diferentes contextos. Os residentes apresentarão suas preocupações urgentes ao contexto atual brasileiro relativas às intersecções das tecnologias com o meio ambiente e a sustentabilidade, as noções de circularidade econômica, a educação e as pedagogias DIY (Do it Yourself), a acessibilidade e a inclusão social.
Mais sobre o curador
Cláudio Bueno é artista, pesquisador e curador. É doutor em Artes Visuais na ECA-USP e realiza com Tainá Azeredo a Intervalo-Escola, que pesquisa e experimenta modos de aprendizagem a partir do campo da arte. Desenvolve com João Simões a plataforma Explode!, que pesquisa e fomenta práticas artísticas e culturais com ênfase nas intersecções de classe social, raça, gênero e sexualidade e integra O grupo inteiro, um grupo dedicado a práticas artísticas. Parte da sua pesquisa atual aborda as infraestruturas tecnológicas globais e seus modos de operar junto às dinâmicas da vida e da terra. Diante da multiplicidade de atividades e encontros preparados para esse dia de festival, convocamos a todas, todos e todes, a refletir conosco sobre o papel das tecnologias digitais, aparelhos, softwares e codificações, em nossas formas de ver, elaborar e interpretar mundos.
O 5º Festival Red Bull Basement acontece dia 14 de setembro das, 10h às 20h, no Red Bull Station.
Fonte: Redbull