Inovação, foco no consumidor e sustentabilidade foram os principais temas nos dois painéis organizados pela Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas não Alcoólicas (ABIR), ontem (13/4), na Anufood Brazil – feira de negócios exclusiva para o setor de alimentos e bebidas do país realizada na Expo São Paulo.
O consumidor no centro
Na primeira mesa de debates, com o tema “Foco no Consumidor: ampliação do portfólio, mais informação e menos ingredientes”, mediada pelo diretor-executivo da Abir, Alexandre Horta, quatro executivos revelaram os esforços e as estratégias das empresas do setor para inovar e atender as necessidades e anseios dos consumidores brasileiros.
Diretor da Bebidas Poty, José Luiz Franzotti afirmou que a empresa trabalha em duas direções: ampliar o uso de embalagens mais sustentáveis e desenvolver produtos voltados para quem busca mais bem-estar. “Esse é o caminho de qualquer indústria porque acreditamos na necessidade da sustentabilidade e porque nossos consumidores estão, a cada dia mais, exigentes”, disse, acrescentando: “É preciso muita criatividade e inovação, buscando sempre novas tecnologias”.
Marcelo Bozzini, gerente-geral Brasil Sul da Coca-Cola, também ressaltou que todas as inovações são impulsionadas pelo comportamento do consumidor: “Buscamos olhar quais são as ocasiões de consumo, desde o café da manhã até os momentos de lazer. O consumidor brasileiro deseja a inovação”.
Na Ambev, explica Pablo Firpo, vice-presidente de bebidas não-alcoólicas da empresa, a inovação está desdobrada em duas vertentes: a inovação do produto em si, com a renovação de portfólios e embalagens cada vez mais sustentáveis, e a inovação para além das bebidas, que inclui o marketing: “Tem que provar, pilotar, testar, inovar, entender porque ninguém tem bola de cristal. Há muitos times envolvidos na busca por suprir as necessidades do nosso consumidor.”
O tripé informação, tecnologia e processos é a chave para a inovação na PepsiCo Brasil, explica Santiago Murray, diretor-geral para bebidas da companhia. E todo esse trabalho é voltado para o consumidor e, também, para os clientes, que são os pontos de venda. “Na pandemia, por exemplo, vimos que as ações de consumo podem mudar rapidamente. Estamos sempre entendendo qual o próximo passo, onde o consumidor vai para que cheguemos primeiro”, disse, destacando que, para tal, é preciso ter coragem, paciência e sempre ajustar o rumo quando necessário.
Portfólio e inovação
E para inovar e estar sempre perto do consumidor, é preciso uma renovação constante do portfólio de bebidas? Os executivos acreditam que sim. Franzotti, por exemplo, cita a água mineral em caixinha da Poty. Firpo relembra os produtos regionais lançados pela Ambev para celebrar o centenário do Guaraná Antarctica. Já Santiago acredita que não se trata apenas de ter as marcas certas com as embalagens certas ao preço certo, mas escolher, também, qual será o canal de vendas.
Para tanto, destaca Bozzini, as empresas precisam ter dados, informações. “Isso ajuda muito os times a entender o que o consumidor quer, o que está no cerne da questão. A partir daí, podemos entender que tipo de solução teremos para os desafios logísticos, de custos, do melhor preço possível ao consumidor”, destacou.
Todas as inovações, destacam os executivos, precisam levar em conta a sustentabilidade e desde o começo da cadeia de ingredientes até a reciclabilidade do produto.
“A indústria de bebidas tem desafios de sustentabilidade, saudabilidade, de produzir um produto que agrade ao consumidor. Não podemos errar, e a qualidade é um eixo fundamental”, disse Franzotti, que destaca o apoio da ABIR para ajudar a fazer chegar a mensagem correta ao consumidor. Um exemplo, diz ele, foi a parceria da associação com o Ministério da Agricultura sobre controle de qualidade de matérias-primas.
“Tenho orgulho de ver como a nossa indústria lidera a sustentabilidade, utiliza ingredientes de origem natural. Estamos bem avançados na nossa agenda. Eu me orgulho de ser parte dessa transformação que vivemos aqui no Brasil”, finalizou.
Sustentabilidade e economia circular
No segundo painel, “Sustentabilidade em Pauta – Os esforços da indústria em prol da economia circular”, a mediação foi feita pelo presidente da ABIR, Victor Bicca, e os participantes eram importantes atores da cadeia de reciclagem do Brasil: Aline Sousa, presidente da Central de Cooperativas de Trabalho de Materiais Recicláveis do Distrito Federal (Centcoop); Auri Marçon, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria do PET (ABIPET), e Guilherme Canielo, representante da Abralatas, Associação Brasileira de Produtores de Latas de Alumínio para Bebidas.
Bicca começou destacando que o setor tem um portfólio de embalagens de alta circularidade. “Temos ainda muitos desafios, como coleta seletiva, aumento da coleta, informação, parte tributária, e tem a participação dos catadores, pessoas inspiradoras como Aline Sousa, que faz um super trabalho em Brasília e é uma liderança feminina”.
Aline contou um pouco de sua história inspiradora, muito representativa desses profissionais essenciais para a reciclagem no país: “Sou da terceira geração de catadoras, mãe de 7 filhos. Temos 20 organizações de catadores em Brasília”, disse ela, que alertou para a necessidade de todos os setores trabalharem juntos para conscientizar as pessoas a partir do momento em que colocam o resíduo na porta de suas casas. “Temos orgulho do que fazemos. Somos especialistas na área de reciclagem, e a ABIR é uma parceira dos catadores há muito tempo. Nós temos valor, somos importantes na cadeia. Sem os catadores não há reciclagem”.
A necessidade de fazer a transição de uma economia linear para um economia circular já unanimidade, opina Aline, destacando que, no Brasil, um dos desafios é a valorização da Política Nacional de Resíduos. “Temos ainda 3 mil lixões para serem fechados no país”. Também é estudante de Direito Tributário, ela destacou ainda a importância de enfrentar desafios tributários no setor e de fomentar programas alternativos diante dessa nova realidade pós-pandemia, uma realidade virtual e tecnológica.
As vantagens do PET reciclado
Um dos grandes desafios para indústrias de diferentes setores é o descarte e reciclagem do plástico. O presidente da ABIPET destaca que já há uma consciência do valor do PET reciclado, que pode ser usado em produtos dos mais variados, como roupas e até para-lamas de carros. “As grandes empresas de vários setores batem na porta da associação e perguntam o que podem fazer com o PET reciclado porque precisam colocar conteúdo reciclado em seus produtos, já que a sociedade demanda isso”, disse.
O trabalho dos catadores, destaca Marçon, contribuiu muito para esse novo cenário. “Desenvolver diversas aplicações para que o material reciclado seja criativo foi o maior trabalho que desenvolvemos no setor porque isso cria logística reversa, que é autossustentável do ponto de vista econômico, e isso gera recursos para toda a cadeia produtiva”, disse. Segundo ele, R$ 3.5 bilhões são gerados com material reciclado. “Antigamente os catadores não representavam nem 2% do fluxo de coleta. Hoje já são mais de 17%, segundo o último Censo de 2019”, informou. Há mais de 70 empresas recicladoras de PET no Brasil, segundo ele, mas elas tem uma ociosidade de 30%, por falta de coleta. “O maior desafio do mundo da reciclagem é a separação. O consumidor deve ter consciência. Estamos evoluindo, mas ainda podemos melhorar muito. Fazer o descarte correto, levar o material para o local correto, tudo isso leva a vantagens sociais e financeiras”, completou.
Para Bicca, o pensamento de que a embalagem é uma vilã está mudando, e isso é o resultado de todo esse trabalho que os setores vêm realizando nos últimos anos. “A procura pelo PET hoje é enorme”, disse.
Marçon ressaltou que está sendo desenvolvido um grande projeto da ABIR e a indústria de óleos e vegetais: um inventário do ciclo de vida do PET no Brasil.
“Estamos trabalhando com uma união de empresas, desde o petróleo, até o reciclador, passando por toda a etapa do processo produtivo, fabricação do derivado do petróleo, resina PET, embalagem, garrafa, descarte, distribuição. Tudo isso está envolvido com profunda busca de informação técnica do que acontece no Brasil. E cada região tem uma característica diferente”, disse.
Está sendo realizado também um censo de reciclagem do mercado PET no Brasil, por meio de entrevistas com empresários e recicladores. “Tudo isso está sendo estudado para que o setor tenha dados para tomar as decisões corretas”, completou Marçon, lembrando que há muitas informações no site www.abipet.org.
Para Bicca, todo esse trabalho é muito animador. “Vai oferecer para o setor e para o país um panorama único do PET, desde o petróleo até a reciclagem. Estamos esperando por isso”.
Se a reciclagem de PET está em constante evolução, a de latinhas de alumínio já é consolidada. Canielo, representante da Abralatas, destacou mais uma vitória em 2021: “Chegamos a um índice de reciclagem recorde, de 98,7%. São mais de 415 mil toneladas que coletamos. E o papel dos catadores é fundamental. Precisamos reconhecer essa função para a sociedade e assegurar condições adequadas para o trabalho”.
Design e educação ambiental
Para o sucesso da economia circular, é essencial não pensar somente no descarte, mas, também, no design das embalagens, destaca Marçon: “Se o projeto de embalagem não for bem feito, vai comprometer a reciclagem”. Ele afirma que todos devem agir em conjunto para alcançar essa transformação. “Se você não produz embalagem circular, sustentável, se o cidadão não agir adequadamente, se a prefeitura não cumprir seu papel, se cada um não cumprir com a sua tarefa, no final das contas não vai dar certo. A solução é de todos, não depende de um só”.
Canielo ressaltou a importância de que todos se unam em um ponto fundamental: o da educação ambiental. “Há acordos assinados. Um exemplo é o convênio da ABIR com o Ministério do Meio Ambiente. Todos estão se comprometendo a se comunicar ao consumidor para que ele saiba a sua responsabilidade, que considere o impacto ambiental na escolha de seu produto. Devemos nos unir em torno da educação ambiental. As soluções devem ser mais sistêmicas e não mais individuais”.