Nesta quinta-feira, 9/11, as indústrias de alimentos e bebidas participaram de um encontro técnico promovido pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), em Brasília, para debater sobre rotulagem nutricional. O evento faz parte do processo estabelecido pela agência reguladora para aprofundar os debates sobre o tema e tem como objetivo reunir e discutir subsídios técnicos e científicos sobre as propostas apresentadas.
O setor entregou à Anvisa uma proposta de rotulagem nutricional que traz para a parte da frente da embalagem informações sobre a quantidade de sódio, açúcares totais e gordura saturada classificadas com o uso das cores (verde, amarelo e vermelho). O objetivo principal é facilitar o entendimento dos consumidores sobre o conteúdo de cada um desses nutrientes nos alimentos, para que eles possam fazer suas escolhas dentro do contexto de uma dieta equilibrada.
Na abertura do evento, a gerente Thalita Lima, da Gerência Geral de Alimentos da Anvisa, falou da importância com que a Agência trata o tema e ressaltou que as discussões sobre a rotulagem nuitricional frontal ainda têm muitas incertezas. “A Anvisa não apoia nenhum modelo específico e está considerando todos os modelos apresentados. O tema será tratado com velocidade, mas não será tratado com pressa”, afirmou.
“Há 16 modelos diferentes em 23 países. 17 países têm modelos voluntários, e há 10 modelos em discussão em 11 países. No geral, são poucos os estudos que comparam efetividade, as metodologias são muito heterogêneas, há poucos estudos com a população brasileira e não há consenso internacional sobre as opções mais efetivas”, completou a gerente da Anvisa.
Durante a manhã, OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde), Caisan (Câmara Interministerial de Segurança Alimentar, FUNED (Fundação Ezequiel Dias) e IDEC (Instituto de Defesa do Consumidor) defenderam modelos baseados em símbolos de advertência, inspirados na experiência chilena. As indústrias de alimentos apresentaram seu modelo de informação baseado nas cores.
“Informação e empoderamento do consumidor é a forma mais eficiente e sustentável de promover estilos de vida mais saudáveis. O rótulo, na medida em que fornece a melhor informação para o consumidor, inicia um processo de educação nutricional e pode fazer parte de uma política mais ampla e articulada de promoção à saúde”, afirmou Daniella Cunha, Diretora de Relações Institucionais da ABIA (Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação), em sua apresentação do modelo nesta
O debate contou com a participação do designer de embalagens Lincoln Seragini, que é também professor de pós-graduação na Fundação Getúlio Vargas, Universidade de São Paulo e Instituto Europeu de Design. O especialista, que já atuou como consultor das Nações Unidas nas áreas de Design e Tecnologia de Embalagem, reforçou a importância de tornar mais clara e didática a rotulagem nutricional, por meio da adoção de sinais e cores de fácil leitura e entendimento.
“Adotar um sistema gráfico e informativo de rápida percepção e reconhecimento é fundamental para educar e disseminar literatura informativa. Utilizando elementos visuais atrativos como as formas e, principalmente, as cores, a embalagem atrai a atenção e desperta o interesse instantaneamente, porque a cor chega mais rápido ao cérebro”, explicou Seragini.
Marcela Reyes, reepresentante da Universidade do Chile, falou sobre a experiência de rotulagem implementada no País e a preocupação com a saúde da população. Segundo ela, o Chile tem um dos maiores índices de obesidade do mundo, inclusive entre as crianças e adolescentes. Gaston Ares, da Universidade da República, do Uruguai, falou sobre os estudos comparativos de modelos de rotulagem nutricional frontal realizados no país.
Na parte da tarde, foram apresentadas algumas pesquisas conduzidas pelas Universidades do Paraná, Santa Catarina e São Paulo. Mariângela Almeida, Analista de Políticas Públicas da CNI (Confederação Nacional da Indústria), apresentou os resultados qualitativos de uma pesquisa realizada pelo IBOPE sobre a atitude dos brasileiros em relação a diferentes modelos de rotulagem, que demonstrou preferência e identificação pelo modelo de ícones coloridos. “Houve grande rejeição ao modelo de advertência nos grupos focais realizados, enquanto as cores causaram empatia e identificação”, contou Mariângela.
De uma maneira geral, essa experiência demonstrou que os consumidores buscam equilíbrio em suas dietas e que entendem e preferem um modelo de informação nutricional com cores, considerando o modelo de fácil entendimento e até mesmo como uma maneira lúdica de ensinar os filhos a fazer escolhas.
O trabalho do IBOPE contou também com uma fase qualitativa, de pesquisa de opinião realizada com 2 mil pessoas, de abrangência nacional. Os resultados serão apresentados no fim de novembro.
Fonte: ABIA